Textos


O Kadafi é Cafona

   Em meados do século passado, por volta de 1960 uma forte onda de nacionalismos revolucionários e anti coloniais varreu o terceiro mundo e no Oriente não foi diferente. Com Arafat a a causa palestina conheceu seu ímpeto maior, os mujahidins (defensores do Islã) combateram e venceram os soviéticos no Afeganistão, a Revolução no Irã removeu o Xá Reza Pah Levi do poder... Eram outros tempos...
  No ocidente as coisas seguiam por caminhos parecidos com guerras de independencia pela África, como na Argélia e Angola, guerrilhas pela América Latina, revolução em Cuba, e evidentemente por trás disso tudo a Guerra Fria, conflito entre Estados Unidos e União Soviética por áreas de influência pelo mundo afora. Nesse cenário essas potências apoiaram e bajularam toda a sorte de ditadores que se mostrassem subservientes a seus interesses. É nesse contexto que as ditaduras que por hora se desmancham frente o clamor popular no mundo árabe se construíram.
  O Oriente é outro universo distante de nossa compreensão, lá muita coisa é diferente, a começar pelo calendário que por hora marca o ano de 1389, contado a partir da saída de Maomé de Meca para Medina, fato conhecido como a Hégira, e no campo da política ocorre um vácuo de poder entre o palácio do governo e a Mesquita (o templo religioso mulçumano). São raros os sindicatos,  as ongs, associações, cooperativas e partidos políticos, de maneira que o poder sempre pende entre o Estado e a Religião e em diversas vezes se misturam.
  A Guerra Fria terminou, o muro de Berlim caiu e as ditaduras mais resistentes da América Latina foram junto para os arquivos da História, na África as nações recém independentes da começaram lentamente a se levantar dos escombros, porém no Oriente Médio, na encruzilhada do mundo, onde três continentes se encontram e formam juntos o que chamamos de Velho Mundo, os ditadores sobreviveram.
  Mas a maré da História é implacável, e na medida que o processo histórico avançou a  globalização se estabeleceu como fato, os Estados Unidos viveram o 11 de setembro desde então entraram em decadência, a China se apresentou como candidata ao posto de super potência, governos de esquerda chegaram ao poder, as ruas foram sacudidas pelas inúmeras paradas do orgulho Gay, enfim tudo mudou, mas lá no Oriente Médio os ditadores com a idade do Che Guevara continuavam no poder, alimentados por petro-dólares, velhos, obesos, falastrões e porque não dizer? Fora de moda... Ou simplesmente: Cafonas.
  O tempo de Mubarak, Abduh Saleh e Kadafi passou. A imagem do ditador líbio vestido de beduíno e óculos escuros que no passado simbolizava a afirmação cultual de uma identidade hoje está deslocada no tempo, assim como o poder que representa está caquético, sua queda é inevitável como a dos demais que a ele se assemelham e isso é bom. A única coisa a ser lamentada são as incontáveis mortes de civis, que foram e estão sendo massacrados pelas ruas das principais cidades da Líbia, do Egito, Iêmem, Sudão, Tunísia e todos os cantos onde essa revolta explode enquanto você lê esse texto.
Vivemos em um tempo muito interessante, onde tudo que parecia improvável ocorre, palhaço vira político de sucesso estrondoso, negro com nome árabe chega à presidência de país racista, mulher alcança poder em sociedade machista, portanto uma coisa é certa os próximos capítulos da aventura humana pelo tempo serão muito movimentados, quem viver verá, quem não viver lerá, quem não ler verá um vídeo no You Tube.


                    A Tortura de Animais      
           

Apresentação
Não pretendo defender nesse texto nenhuma tortura sob qualquer meio contra qualquer ser vivo, por acreditar que é uma ato abominável. Pretendo apenas levantar questionamentos a cerca da natureza que se esconde por trás de algumas iniciativas da sociedade brasileira. Aqui estão apenas algumas interrogações sobre quem somos e no que acreditamos como povo, mesmo sem perceber, dessa forma acredito que estamos abrindo caminho para superação das heranças coloniais e escravistas que ainda carregamos.


A “tortura de animais” e o preconceito étnico cultural


Hoje aconteceu uma coisa curiosa comigo enquanto “navegava pelos mares do Facebuquistão, ao aportar em uma praia em que vive um povo rebelde que chamam-se uns aos outros de: carajaenses, observei que algumas pessoas começavam a se agrupar ao redor de uma ideia... Naquele dia um nobre guerreiro, muito forte e respeitado entre eles havia recebido uma notícia vinda de terras distantes que os terríveis poderosos da babilônia tropical haviam criado uma lei nova que se destinava a permitir a tortura e o massacre dos animais indefesos. Tal notícia indignou o guerreiro.
Fui investigar, e encontrei o culpado por tal ação. O homem que deu origem a tal ato. Tratava-se de um deputado gaúcho, que cansado de ver a constante perseguição contra os sacerdotes das mais diversas religiões de matrizes africanas resolveu intervir.
Nos ritos afro brasileiros, a prática do sacrifício de animais existe e é cercada de significados, as mais diversas partes do animal abatido de forma tradicional são oferecidas aos diversos deuses, cada qual com sua parte e, portanto, os pedidos para os orixás de proteção... pro coração, pro sexo, pra força, etc.
Talvez você agora esteja pensando o seguinte: - Eu não concordo com isso, não acredito, e não aceito essas coisas porque são bruxarias ou coisa assim.  Se isso ocorreu pra você lembre-se de uma coisa: Você não é membro dessa cultura, nem a conhece, certo? Porém, isso não faz com que ela não exista, e numa democracia todos devem ser respeitados, não é?
O deputado diante dessa constatação, percebendo que vivia numa sociedade que tortura e massacra animais em escala industrial, produziu uma lei, regulamentando a prática dos sacrifícios rituais nos terreiros do Brasil. Num país que tem circo com animais, rodeio, vaquejada, frigorífico, briga de galo, castração com canivete, confinamento, produção de vitela, foie gras, frango com 40 dias de vida e pronto pro abate, etc...
Só podia existir uma razão para a perseguição contra os sacerdotes afro brasileiros: a discriminação contra a cultura desse povo, que no próximo dia 13 de maio está de aniversário de libertação oficial. São agora 124 anos de abolição (1888 – 2012) contra 388 de escravidão oficial e cotidiana (1500 – 1888). Conheço um ditado que diz: o hábito do cachimbo põe a boca torta, e a escravidão “entortou a boca e a mentalidade” da sociedade brasileira por 388 anos.
Passei então a questionar o guerreiro se eles se ergueriam contra todas as formas de tortura que existem no Brasil contra os animais, ou se iria contra apenas a lei criada pelo deputado em questão. Pude então notar que na sua altivez de bravo, ele se deparou com algo que não tinha notado, se retirou do ambiente com uma saudação cortês.
Entrei em minha jangada virtual e zarpei rumo aos noticiários pensando no senador do segundo Império, monarquista convicto, e abolicionista fervoroso, Joaquim Nabuco, que dizia na época que mesmo depois de duzentos anos da abolição ela ainda não estaria completa, pois restaria ainda o mais difícil: remover suas sequelas e apagar suas mais terríveis cicatrizes da alma de nosso povo.
O velho guerreiro ficou a cismar consigo e com o mundo, em meio ao mais tecnológico e moderno entremeado com o arcaico mais imemorial... Modernização conservadora. Desconectou-se e sumiu no oceano virtual do Facebuquistão. Saravá!







Nenhum comentário:

Postar um comentário